A inadaptabilidade é uma deficiência pronunciadamente negativa, que põe a pessoa em situações incômodas e a submete a dolorosas experiências por causa da permanente inconsciência em que a deixa, impedindo-a de amoldar-se aos novos acontecimentos que a vida traz consigo, bem como a toda circunstância que, de um modo ou de outro, implique uma mudança em seus pensamentos, atitudes ou costumes.

Em outros termos, obriga a pessoa a viver em desacordo com a realidade que a rodeia e, portanto, faz com que experimente de forma constante os ingratos resultados de sua obstinada resistência à lei de adaptação.

Sem nos determos nas comprovações biológicas a respeito do ponderável grau de adaptação das formas de vida vegetal e animal, veremos que fatos históricos demonstram a enorme capacidade natural do homem para adaptar-se às mais variadas condições de vida.

Forçado a isso, sua adequação ao meio e a toda espécie de pressões e necessidades é um fato certo, o que todavia não o impede de rebelar-se e mergulhar em incompreensões que repercutem dolorosamente nele.

A inadaptabilidade não corresponde, pois, ao físico, e sim ao psíquico, ou mais diretamente à parte mental do indivíduo, por ser na mente onde se deve verificar a passagem de um estado a outro de compreensão.

A inteligência desempenha um papel sumamente importante nas decisões, e aceita ou resiste às mudanças a que o ser deve submeter-se em razão de necessidades ou circunstâncias.

Na mente não se produz, como no caso do físico, a adaptação espontânea que reflete o sutil movimento de conservação da vida por meio das alternativas a que se vê exposta. Nela, a adaptação se realiza em virtude dos acertos da inteligência na elaboração de uma razão que sirva para sustentar uma posição ou um comportamento que é preciso adotar.

Esse pensamento negativo esconde sempre o ídolo da falsa personalidade. Por trás dos bastidores do cenário psicológico, a inadaptabilidade move sigilosamente os fios de sua argúcia e é, definitivamente, a que se rebela contra as situações ou acontecimentos adversos e a que reage contra toda ideia que tenda a modificar sua rígida postura.

A pessoa submetida aos transtornos que a inadaptabilidade ocasiona, atrasa sensivelmente o processo de sua vida. Sem se decidir a imitar o exemplo dos que saltam com agilidade os obstáculos que comumente se levantam para provar a fortaleza e a têmpera, permanece à espera de que eles desapareçam em virtude de algum milagre especialmente realizado para sua exclusiva comodidade.

A adaptação é um poder consubstancial com a natureza física e psíquica do homem, que lhe permite suportar os maiores sofrimentos e incômodos sem perder as prerrogativas de seu gênero. Mas esse poder só se manifesta com todo o vigor de sua potencialidade quando se leva a adaptabilidade à prática, depois de sua assimilação como conhecimento.

O exercício voluntário desse poder promove a adequação da vida às mil e uma dificuldades que se lhe apresentam, evitando o desgaste de resistências inúteis.

Extraído do Livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, pág. 52

Deficiências e Propensões do Ser Humano

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Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.